A ciência, dizem alguns, impossibilitou a poesia; não há poesia nos carros a motor e na rádio. E não temos religião. Tudo é tumultoso e transitório. Por isso, dizem as pessoas, não pode haver uma ligação entre o poeta e os dias de hoje. Mas é, com certeza, uma tolice.
Lembra-se como esta vida ansiou, desde a infância, pelo que é «grande»? Vejo como agora aspira a prosseguir a partir do grande para o que é ainda maior. É por isso que a sua vida continuará a ser difícil, mas é também por isso que não cessará de adquirir amplitude.
E é por isso que se torna tão importante estar só e atento quando se está triste: porque o momento aparentemente habitual e vazio em que o futuro vem até nós está muito mais próximo da vida do que aquele momento ruidoso e fortuito, em que o futuro nos acontece como que a partir do exterior.
A inteligência, pela sua própria natureza, nem é um trabalho nem pode ser uma magistratura. Consiste em súbitas, instantâneas visões e entrevisões que ninguem sabe quando nem se se produzirão. O maior dom da inteligência, que é simultaneamente condição do seu exercício, é que nunca está segura de si mesma. O homem inteligente, precisamente porque é inteligente, nunca sabe se no momento imediato vai ser inteligente. Quem crê com segurança na permanência da sua perspicácia é precisamente o tolo.
